Newsletter ECD #140

Essa é a Newsletter #140, enviada em 12/03/2023

 

A “nossa” Newsletter, junto com o “nosso” Podcast Áreas Contaminadas, cumpre um papel de dar poder pelo conhecimento, trazendo informações, conteúdos, textos, temas, dicas e notícias sobre Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC), e também notícias sobre meio ambiente, ambientalismo, saúde, filmes, livros, músicas, teorias para adiar o fim do mundo e outras coisas, sempre com comentários com o objetivo central de construir um mundo melhor para todas e todos.

Se alguém quiser compartilhar a nossa Newsletter, pode mandar o link para preenchimento do formulário de inscrição, que é esse: https://forms.gle/wJoFfUzv9vSkw19g7 .

Algumas das Newsletters anteriores estão no site da ECD (www.ecdambiental.com.br).

E também, graças ao nosso amigo José Gustavo Macedo, nossa Newsletter está sendo publicada também no site do Sigesp – Sindicato dos Geólogos do Estado de São Paulo, o que é motivo de muita honra para nós!!!! Vejam lá a Newsletter #138 e algumas anteriores

https://sigesp.org.br/noticias/newsletter-ecd-139

      

Aproveito e recomendo aos Geólogos que se filiem ao sindicato, isso é muito importante para toda a sociedade.

 

Essa semana tivemos a honra de ter mais 2 novas inscrições aqui. Somos atualmente em 669. Seja bem-vinda, Ana, seja bem-vindo, Fernando!!!!!!

 

Gostaria de relembrar que temos uma campanha no “Apoia.Se”, que é muito importante pra gente, pois ela ajuda a mantermos os nossos canais de divulgação científica gratuitos nessa Newsletter e lá no Podcast Áreas Contaminadas. A campanha, para quem quiser e puder contribuir está no site http://apoia.se/ecdambiental

É simples, você faz login na plataforma e escolhe como fazer esse pagamento, com boleto, cartão, etc. A transação é segura como qualquer compra online e mensalmente o Apoia.se faz essa cobrança; se for por boleto, a plataforma te envia os boletos mensalmente.

E falando nessa campanha, com muita alegria anuncio que essa semana tivemos a honra de termos mais uma colaboradora financeira se juntando a nós!!!! Vou agradecê-la “pessoalmente”, mas aqui vão meus agradecimentos públicos à Barbara Teixeira Grossi. Barbara, muito obrigado pela ajuda!!!! Os Estúdios ECD agradecem demais!!!!!

 

Aproveitando, agradeço aos apoiadores e às apoiadoras atuais, principais responsáveis pela manutenção dos nossos canais de divulgação. Sem a ajuda deles, dificilmente seria possível dedicar todo esse tempo à pesquisa, produção e o desenvolvimento do material gratuito do podcast e dessa Newsletter. Muito obrigado a vocês!!!

 

Ábila de Moraes, Alison Dourado, Allan Umberto, André Souza, Atila Pessoa, Barbara Grossi, Beatriz Lukasak, Bruna Fiscuk, Bruno Balthazar, Bruno Bezerra, Bruno Bonetti, Cristina Maluf, Daiane Teixeira, Daniel Salomão, Diego Silva, Fabiano Rodrigues, Fernanda Nani, Filipe Ferreira, Geotecnysan, Gilberto Vilas Boas, Guilherme Corino, Heitor Gardenal, Heraldo Giacheti, Hermano Fernandes, Jefferson Tavares, João Paulo Dantas, João Lemes, Jonathan Tavares, José Gustavo Macedo, Joyce Cruz, Larissa Macedo, Leandro Freitas, Leandro Oliveira, Lilian Puerta, Luana Fernandes, Luciana Vaz, Luiz Ferreira, Marcos Akira Ueda, Marina Melo, Nádia Hoffman, Paulo Negrão, Pedro Astolfi, Rafael Godoy, Rafael Sousa, Renato Kumamoto, Roberto Costa, Rodrigo Alves, Silvio Almeida, Sueli Almeida, Tamara Quinteiro, Tatiana Sitolini, Tatianne Grilleni, Tiago Soares, Wagner Rodrigo, Willem Takiya, e mais 7 apoiadores anônimos.

 

Gostaria também de convidar vocês a ouvir os primeiros episódios do Screening de Notícias, nosso mini-podcast derivado do nosso Podcast Áreas Contaminadas, apresentado por Lillian Koreyasu Riyis. A ideia com o SdN é trazer as principais notícias do GAC, meio ambiente, economia, saúde e de outros assuntos relacionados, fazendo comentários da nossa visão sobre os fatos, da mesma forma que aqui na Newsletter, mas em formato “podcastal”. Espero que gostem. Temos 07 episódios no ar!!!!!

 

Episódio #145 do Podcast Áreas Contaminadas, o 10º da 4ª temporada, não foi ao ar, na última quinta (09/03) por problemas pessoais/familiares aqui, que dificultaram a minha escrita/leitura/gravação do episódio. Mas felizmente está tudo certo com todo mundo aqui!!!!

Peço desculpas e agradeço pela compreensão!!!!

 

Na próxima semana, teremos (espero!!!!!) o Episódio #145 do Podcast Áreas Contaminadas. Será mais um episódio mais técnico, mais curto, sobre algum tema específico que nós estejamos discutindo nos fóruns de debates sobre o GAC, como as aulas das Pós-Graduações no SENAC, os cursos da parceria SENAC/AESAS, as reuniões da ABNT, os eventos, etc. Desta vez, vamos falar um pouco sobre o risco. Como sabemos que uma SQI representa maior ou menor risco, e em quais cenários? Aliás, o que são cenários de risco? É um tema muito espinhoso e complexo, mas vou dar um pontapé inicial aqui, para tentarmos entender como o GAC funciona, afinal, todo o GAC é baseado na gestão do risco. Espero que gostem!!!!

 

O Nosso Podcast Áreas Contaminadas tem o patrocínio Master da Clean Environment Brasil (www.clean.com.br ), e o Patrocínio Ouro do Laboratório Econsulting (http://econsulting.com.br/) e da Vapor Solutions (www.vaporsolutions.com.br)

 

Sobre o Podcast, recebi uma notícia essa semana que deixou a todos aqui muito contentes, orgulhosos, honrados e preocupados com a responsabilidade!!!!!!  

O Anchor.fm, que agora mudou para Podcasters Spotify, me avisou que passamos dos 25 mil plays no nosso podcast!!!!!! No momento em que escrevo, são 25027 plays!!!!! Acho realmente impressionante, agradeço demais a todas e todos vocês. Espero estar dando uma contribuição adequada a essa nossa ciência e para o nosso planeta como um todo. Agradeço aos nossos patrocinadores, a Clean, a Vapor Solutions e o Laboratório Econsulting, agradeço muito aos nossos colaboradores e colaboradoras financeiras no Apoia.Se, e agradeço especialmente a todas e todos que nos ouvem semana após semana, nos fazendo compreender que temos um papel importante na divulgação científica, no crescimento técnico de todo o mercado, no empoderamento dos trabalhadores e trabalhadoras do GAC e, fundamentalmente, na construção de um mundo melhor e mais justo. Isso, é claro, nos enche de orgulho e alegria, mas também dá um certo friozinho na barriga, primeiro pela pressão de atender às expectativas de vocês, e em segundo, pela responsabilidade que devemos ter com o que escrevo aqui. Mas, vocês podem ter certeza, a alegria ganha de longe. Muito obrigado a vocês que me ouviram, me ouvem e, espero, continuarão me ouvindo por um bom tempo  

 

 

Antes das notícias da semana, gostaria de falar sobre o dia 08 de março, o Dia Internacional da Mulher. É um dia de celebração, de reconhecer as conquistas das mulheres através dos anos, mas não só isso. É um dia de luta, para lembrar da permanente batalha que as todas as mulheres e aliados devem combater para que mais direitos sejam conquistados. Será uma longa luta, como todas e todos nós sabemos. Uma pesquisa da Catho em 2021 mostra que mulheres ganham salário, na média, 34% menores. Para os salários maiores, em cargos de liderança, a diferença é menor, mas existe, de maneira até inacreditável, em 24%, além da visível diferença numérica entre homens e mulheres nesses cargos mais altos. Gostaria de dizer que no GAC a situação é melhor, mas não tenho informação suficiente para isso, e prefiro ouvir as próprias mulheres falando sobre isso (quem quiser, por favor, me mande algum relato). Mas, no GAC, como em toda a sociedade, há o machismo estrutural, há o racismo estrutural e devemos sempre estar atentos e atentas a isso.

Além do mercado de trabalho e de uma suposta luta por salários equivalentes, a questão é bem maior que essa, infelizmente não temos condições de desenvolver todo esse tópico aqui hoje, prometo retomar esse tema mais para frente. Mas uma coisa eu gostaria de ressaltar e relembrar. O dia 08/03 é celebrado de diversas formas, algumas com relativo bom gosto, outras reproduzindo o machismo nosso de cada dia, só que dificilmente refletimos sobre a origem do 08/03.

 Essa data lembra uma grande passeata conduzida em 08/03/1917, em Petrogrado (atual São Petersburgo), na Rússia contra a fome, o desemprego e as más condições de vida. Essa passeata é um dos marcos do início da Revolução Russa, do mesmo ano. Em 1975, a ONU oficializou a data da passeata, 8 de março, como Dia Internacional da Mulher.

Antes desse dia, houve muitas comemorações do Dia da Mulher, em diferentes datas, exigido por trabalhadoras de várias partes do mundo, unindo reinvindicações trabalhistas “normais”, políticas e sufragistas, especialmente na Europa Ocidental e nos EUA. Em 8 de março de 1917, centenas de tecelãs de Petrogrado decretaram greve e saíram às ruas para protestar, conclamando o povo à rebelião. A manifestação atraiu adesão dos populares que se juntaram às mulheres. A guarda czarista reprimiu brutalmente o protesto, mas só conseguiu inflamar ainda mais a revolta popular. Com a enorme adesão popular, a greve das operárias se converteu em um movimento de massas, que culminou na abdicação do czar Nicolau II e na Revolução de 1917. A atenuação do imaginário revolucionário originalmente associado à data facilitou sua assimilação pelos países do ocidente e o 8 de março gradualmente tornou-se uma data vinculada ao Dia da Mulher também nos centros capitalistas. A data tem sido cada vez mais destituída de seu caráter original de luta em prol de reformas sociais e da conquista de direitos políticos e civis, transformando-se em uma celebração comercial e mensagens de bem-estar com patrocínio de grandes corporações e utilizada como ferramenta de marketing para impulsionar vendas de produtos e serviços.

Em resumo, historicamente é um dia de luta. Mais de 100 anos depois, ainda há muito pelo que lutar, não acho que contribui para a verdadeira luta nós transformarmos essa data em dia celebração “comercial”. É importante refletirmos mais sobre as origens das lutas e os efeitos dessas lutas.

Mais em: https://twitter.com/historia_pensar/status/1633510181639266309?t=eeHOCrf8FjMJyBUy61DBuA&s=08

 

 

Vamos agora às notícias da semana:

 

Recebi essa semana algumas contribuições muito legais de: Manoel Riyis Gomes, Fabiano Rodrigues (novamente muitas vagas de emprego vieram dele), Ariane Rodrigues, Lucas Venciguerra, Miriam Tanaka, Luiz Ferreira, Bruno Ferreira. Obrigado, pessoal!!! Fico orgulhoso de ter tanta gente boa contribuindo com nosso “espalhamento” aqui!!!  Quem identificar erros ou falhas, ou quem tiver dicas, críticas, sugestões para dar, por favor, me mande, para rechearmos esse espaço com as ideias de vocês.

 

- Recebi, nessa última semana, algumas vagas de emprego para divulgar: GRI (Grupo de Resíduos Industriais) – 2 vagas, Geoambiente – São José do Rio Preto (Gerente de Projetos), Mérieux (Analista – Piracicaba), Lead (Analista – Campinas). Soube também de várias outras vagas não anunciadas em muitas outras consultorias, se você é um profissional da área, recomendo que entre no site da AESAS e entre em contato diretamente com as empresas associadas (www.aesas.com.br). As vagas que recebo ou vejo, compartilho imediatamente no nosso Canal do Telegram (https://t.me/areascontaminadas)

 

- Estão abertas as inscrições para mais um curso da parceria SENAC/AESAS. É um curso de GAC em áreas com Hidrocarbonetos, com 40 horas de duração, que terei o prazer de coordenar. Será um curso online, ao vivo, às terças e quintas, das 8:00-12:00, a partir de 04/04. O grande foco do curso será o GAC em Postos de Combustíveis, com algumas pitadas de bases e refinarias também. Se vocês têm interesse, façam a inscrição!!!! Informações e inscrições no site da AESAS. https://www.aesas.com.br/c%C3%B3pia-principal

 

- Bruno Ferreira indicou um vídeo muito interessante, da Cascade, que mostra um pouco do funcionamento do Waterloo APS, uma ferramenta muito legal que, infelizmente não é vendida no mercado, o serviço é prestado pela Cascade. Só que, além de mostrar o Waterloo APS, mostra um teste que eles estavam fazendo, para tentar acoplar o UVOST à ponteira do Waterloo APS. Se der certo, será uma ferramenta excelente para áreas com LNAPL!!!! Assistam ao vídeo, é bem legal. https://www.youtube.com/watch?v=TO0QxaQ8Uek

 

- Publicação no LinkedIn da EPA de Ohio, falando sobre as medidas que estão sendo tomadas no caso de East Palestine (ouçam o nosso episódio #143, que falamos sobre isso). No vídeo, a Anne Vogel, Diretora da Agência da EPA de Ohio fala sobre algumas dessas ações e mostra uma amostragem de água subterrânea em poços de monitoramento. https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7035656388458541056?

 

- Na Sessão PFAS de hoje, uma notícia curiosa, indicada por Ian Ross no LinkedIn: Tem PFAS no papel higiênico!!!!! (pausa para risos) Pois é, uma reportagem da Time fala que um estadunidense usa em torno de 26 Kg de papel higiênico por ano, ou algo em torno de 9 bilhões de kg de papel higiênico “consumidos” nos EUA. Artigo de Thompson et al. (2023) conta que foram encontrados 34 tipos de PFAS no papel higiênico de todas as marcas analisadas. O costume nos EUA é descartar os papéis higiênicos no esgoto, então a presença de PFAS impacta as ETEs e consequentemente as águas superficiais e subterrâneas onde a água pós-tratamento, supostamente “limpa” é lançada no meio contendo PFAS. Os autores do estudo concluem que o papel higiênico parece ser a maior fonte de PFAS nos efluentes sanitários nos EUA.   https://time.com/6259819/pfas-found-in-toilet-paper/

Pesquisa original: https://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/acs.estlett.3c00094

 

- Dica de Miriam Tanaka: Artigo na revista Consumers Reports indicou que chocolates de marcas famosas (Hershey's, Lindt, etc) estão contaminados por metais, como chumbo e cádmio(!!!!). Conforme sugere o estudo, para 23 das barras analisadas, o consumo de apenas 30 gramas por dia já levaria a uma exposição em um nível considerado prejudicial pelas autoridades de saúde pública.    https://canaltech.com.br/saude/cientistas-encontram-metais-toxicos-em-chocolates-de-marcas-famosas-233482/

 

- Aqui um assunto que tem sido muito comentado no nosso meio, porque nos diz respeito diretamente. Essa notícia foi indicada pelo Fabiano Rodrigues e pelo Luiz Ferreira. A Ucrânia está sofrendo, em seu território, com a invasão russa (muitas ressalvas aqui, comentei sobre algumas origens do conflito, inclusive o Euromaidan de 2014, o Massacre da Casa dos Sindicatos de Odessa, os neonazistas ucranianos, Batalhão de Azov, a opressão aos russófonos nos Oblast de Donetsk e Lugansk, a ação da OTAN, etc, etc, mas o fato é que a Ucrânia está sendo invadida, independente dos motivos). Nessa invasão, há o uso de armas que, além do fato de serem armas, portanto, representarem perigo iminente, risco agudo (agudíssimo) à saúde humana, ainda há a questão ambiental e, no nosso olhar, da contaminação do solo e das águas subterrâneas como consequência secundária e de longo prazo dessa invasão. De acordo com a agência de notícias Reuters, pelo menos 10,5 milhões de hectares de terras agrícolas na Ucrânia estão contaminados com produtos químicos. Explosivos como o TNT (aromático nitrogenado), metais como mercúrio, chumbo, cádmio, arsênio e outros. A Ucrânia é um país de economia predominantemente agrícola e ainda vai sofrer muito com esse enorme passivo ambiental. https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2023/03/07/como-as-armas-usadas-na-ucrania-contaminam-o-solo-e-as-aguas.ghtml

 

- Mas, já que estamos falando desse tema, e a imprensa ocidental está reforçando a questão ucraniana, e com isso faz o seu papel de construir um modo de pensar não-isento, aliás, não há nada realmente isento, nem essa Newsletter aqui, vamos falar de outros problemas ambientais decorrentes de conflitos armados. A lista de territórios invadidos com passivos ambientais seria longa: Palestina, Síria, Iêmem, Iraque, Afeganistão, Território Sioux, Mapuche, Ianomâmi, Guarani, etc. Mas vamos falar de um deles, muito famoso, que é a “Guerra do Vietnã”, na verdade uma invasão estadunidense àquele país.

Essa ideia me foi dada pela Giselle Alvarado, amiga leitora muito atenta dos nossos textos aqui. Ela pesquisou, para um trabalho da Pós, uma contaminação causada pelo famoso “Agente Laranja”, um desfolhante aplicado pelas tropas estadunidenses para expor os guerrilheiros locais, que agiam sob a proteção das florestas e para “matar” a produção de arroz dos locais. Os EUA jogaram 80 bilhões de litros dessa substância no solo vietnamita. Uma revisão de diversos estudos mostra que, 50 anos depois que as forças dos EUA pararam de pulverizá-lo, ainda há restos altamente tóxicos desse desfolhante no solo e em sedimentos, de onde entram na cadeia alimentar. Havia diferentes herbicidas (biocidas?) usados, como era o caso do agente branco, do agente púrpura, do agente rosa, do agente verde (contra vegetação de folhas grandes) e do agente azul (usado contra os arrozais), além do agente laranja. 20% das selvas do Vietnã foram pulverizadas pelo menos uma vez, e o arroz e outros produtos agrícolas também foram alvo. Até 40% dos herbicidas foram usados contra as plantações, sendo que 10 milhões de hectares foram pulverizados com agente azul, que acabava com a colheita em horas. O terceiro principal uso dos herbicidas foi acabar com todo o verde que houvesse nos arredores das bases militares americanas, criando assim um perímetro de segurança. O agente laranja era formado por dois herbicidas, o ácido 2,4-Diclorofenoxiacético (2,4-D) e o ácido 2,4,5- Triclorofenoxiacético (2,4,5-T), fabricado pela Dow Química. Mas o agente laranja continha também uma dioxina altamente tóxica, a TCDD. Para acelerar a produção, a temperatura foi elevada em cerca de cinco graus, e a altas temperaturas o cloro presente no composto gerava entre 6.000 e 10.000 partes por milhão (ppm) de TCDD a mais do que em condições normais. Essa substância é cancerígena e é facilmente retida no solo. Estudo conduzido na antiga Base de Bien Hoa, os pesquisadores coletaram 1.300 amostras de solo de 76 pontos diferentes da base e lagos. Dessas, 550 tinham níveis de dioxina acima do regulamento do Ministério de Defesa Nacional do Vietnã para uso do solo. Ao lado da de Bien Hoa fica uma cidade onde vivem 900.000 pessoas. Até hoje é proibida a pesca em rios e lagos da área. A persistência da TCDD é tanta que vários dos aviões usados para pulverizar o agente laranja tiveram de ser incinerados porque, 30 anos depois de voltar do Vietnã, ainda tinham a dioxina aderida a eles. O último relatório sobre os efeitos do agente laranja nos veteranos de guerra, publicado em novembro, acrescentou novas patologias relacionadas com a exposição ao herbicida.

Reportagem: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/16/ciencia/1552710887_506061.html

Artigo citado na reportagem muito legal, com imagens, mapas e descrições muito interessantes do cenário: https://www.readcube.com/articles/10.4236%2Fojss.2019.91001

Artigo de López et al., 2021, usado pela Giselle no seu trabalho, que fala da amostragem multincremento que foi realizada para investigar a área contaminada pela dioxina TCDD: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0301479721016613?via%3Dihub

Relatório oficial dos EUA sobre o gerenciamento das áreas contaminadas com Agente Laranja no Vietnã: https://sgp.fas.org/crs/row/R44268.pdf

Saiba mais sobre o Agente Laranja: https://pt.wikipedia.org/wiki/Agente_Laranja

 

- Complementando esse tema, de guerras, exploração e áreas contaminadas gostaria de indicar mais material. O primeiro, sobre o uso de mercúrio na mineração de ouro na República Democrática do Congo, um país que já sofreu muito nas mãos dos colonizadores, aqui nesse caso, com mais crueldade que o habitual, impetrada pelo Rei Leopoldo II, da Bélgica, que mandava cortar as mãos de quem não conseguia “bater a meta” de produção de borracha, ou cortar a mão dos filhos de quem não batia a meta. Enfim, um artigo que fala da nova colonização, essa conduzida por grandes mineradoras transnacionais que deixam um enorme passivo ambiental na R.D. do Congo. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652619301933

 

- E não é só isso. Já aproveitei que estava pesquisando sobre esse assunto, recomendo aqui duas matérias, uma delas com imagens maravilhosas (e preocupantes) sobre os efeitos ambientais extremamente danosos da mineração de Lítio. Aquele metal utilizado para as baterias que são usadas em aparelhos eletrônicos, e serão muito usadas em carros elétricos. Uma das matérias fala do passivo que deixaremos no “triângulo do lítio” para que o mundo seja salvo dos combustíveis fósseis. A descarbonização da nossa economia é para beneficiar quem?

https://www.euronews.com/green/2022/10/28/south-americas-lithium-triangle-communities-are-being-sacrificed-to-save-the-planet

Matéria com imagens fantásticas: https://umsoplaneta.globo.com/sociedade/noticia/2022/02/09/fotografo-capta-imagens-impressionantes-da-mineracao-de-litio-na-america-do-sul.ghtml

 

- Aqui uma notícia muito interessante, triste e trágica, indicada pela Ariane Rodrigues, que dialoga um pouco com essas questões que acabei de falar e também com meu texto inicial sobre o Dia Internacional das Mulheres. Muitas mulheres foram expostas a alta radiação na United States Radium, em 1917. Ali, milhares de mulheres trabalhavam na pintura manual de mostradores de relógios com uma tinta auto luminosa e atraente, que lhes foi dita ser inofensiva. Acontece que esse pigmento continha o isótopo radioativo do rádio. As moças eram incentivadas a lamber seus pincéis para dar uma ponta mais fina, juntando as cerdas, como forma de manter a excelência na produção dos mostradores. A consequência não poderia ser diferente: todas as moças que trabalharam naquele setor da fábrica de Nova Jérsei, incialmente (e, depois, Illinois e Connecticut), tiveram envenenamento por radiação, inclusive por passarem a tintura de rádio nas unhas. Anemia, perda de cabelo, queimaduras e até necrose mandibular ocorreram em seus corpos nos anos seguintes. É estimado que mais de 4 mil mulheres tenham sido contratadas para atuarem como pintoras com essas tintas tóxicas, que misturavam o rádio com água e cola. Na maioria dos casos, elas eram mal pagas. Diante da situação, muitas delas vieram a falecer, sem que se saiba ao certo quantas faleceram em decorrência da radiação, que já tinha efeitos conhecidos. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/tragica-e-fatal-situacao-das-garotas-de-radium-vitimas-da-negligencia-patronal.phtml  

 

- Uma belíssima entrevista com o famoso pesquisador José Eli da Veiga (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Eli_da_Veiga), agrônomo, economista, militante político desde a década de 60 e ambientalista desde os anos 80, um dos primeiros a publicar sobre o desenvolvimento sustentável, a estudar o Antropoceno como Era Geológica e também a estudar o Decrescimento. Nessa entrevista, ele afirma que o Antropoceno já está no espírito do tempo, por isso, já está na hora de raciocinarmos a partir desse enfoque, coisa que os economistas ainda não fizeram. Outro ponto importante da fala dele é que não conseguiremos salvar o planeta como um todo, devemos focar em tentar salvar a biosfera. Mas, como vocês vão ler na entrevista, ele não é mais um “ambientalista liberal”, ele é plenamente consciente das desigualdades e de como essa questão social é central para as discussões ambientais. Destaco o seguinte trecho: “Tem um problema complicadíssimo que eu não sei nem formular, que é em relação à carne. Como o consumo de carne vermelha é responsável por muita emissão de gases de efeito estufa, fica difícil fazer essa discussão porque, mesmo que alguém diga que temos que desincentivar a produção de carne, todo mundo que começa a ganhar algum dinheiro em algum lugar do mundo, isto é, todo mundo que sai da pobreza e tem renda, vai querer comer carne. Iremos dizer para essas pessoas que elas não podem comer carne por causa do aquecimento global? Ou seja, nós já comemos tudo que podíamos, mas agora elas não podem? Isso é tão impensável!!!!”. Ele também cita o papel importante de Bruno Latour na formulação do conceito do Antropoceno e discorda do uso do termo que eu defendo aqui, o Capitaloceno ao invés de Antropoceno, mais por questões teóricas que vocês também vão ler na entrevista. Aproveitem, não é sempre que temos um pesquisador desse calibre falando sobre temas verdadeiramente importantes.     https://ihu.unisinos.br/626838-o-antropoceno-ja-esta-no-espirito-do-tempo-ja-esta-na-hora-de-raciocinarmos-a-partir-do-antropoceno-entrevista-especial-com-jose-eli-da-veiga  

 

- Uma notícia ruim, mas que dá um alento. Nós falamos aqui em janeiro desse ano sobre um produtor que pulverizou agrotóxicos em grande quantidade em sua plantação, só que essa fica do lado de uma escola em Belterra, oeste do Pará, e causou problemas de saúde como intoxicação em muitas crianças do local. Pois bem, o Ibama aplicou uma multa de 1 milhão de reais no responsável por causar esse problema. De acordo com informações do Ibama, em janeiro deste ano, equipe de fiscalização esteve no local após denúncia e constatou o uso de agrotóxicos na plantação e verificou que haviam sido feitas oito notificações por intoxicação em unidade de saúde. Em fevereiro, mais 30 notificações foram feitas pela unidade básica de saúde onde os alunos buscaram atendimento após apresentarem sintomas de intoxicação. Além da multa, o órgão notificou a propriedade para imediata suspensão do uso de defensivos agrícolas até que seja providenciada uma barreira de vegetação entre a escola e a área de plantio, de modo a garantir a segurança não só de alunos e profissionais que trabalham na instituição, como de moradores dos arredores.    https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2023/03/07/ibama-multa-produtor-em-mais-de-r-1-milhao-por-intoxicacao-de-alunos-de-escola-de-belterra-com-agrotoxico.ghtml

 

- Algumas vezes uns amigos me dizem que eu exagero, especialmente com as cobranças sobre as grandes empresas. “Não são todas assim”, dizem eles, e eu rebato dizendo que essa é a natureza delas, elas estão aí para lucrar e gerar o que em economia se chama de acumulação, que pode se transformar em reinvestimento, P&D, inovação, etc, ou simplesmente em grana no bolso dos donos ou acionistas e investidores. Mas, dizem meus amigos, muitas empresas são “ambientalmente corretas”, ou “socialmente justas”, porque têm a certificação X, ou promovem o ESG, mantêm um Instituto, ou geram empregos no local, etc. Isso é correto, mas vejam essa notícia dessa semana: 340 empresas com certificado de sustentabilidade são acusadas de crimes ambientais.  A apuração revelou que muitas empresas declaravam como manejo sustentável de florestas operações que passavam longe de serem sustentáveis. Por exemplo, uma empresa de produtos de madeira que opera na Amazônia afirmava ter sido “certificada com grande sucesso” apesar de ter recebido 36 multas desde 1998 por armazenar e transportar madeira sem documentação legal, dentre outras violações. Uma empresa de silvicultura japonesa que atua no Chile recebia madeira de fornecedores cuja documentação incluía informações falsas sobre a origem da madeira. Um grupo de madeireiras canadenses usava um “plano de manejo florestal sustentável” certificado por um auditor local para cortar árvores em florestas de áreas nativas, alterando drasticamente o território da comunidade e seu modo de vida, de acordo com uma sentença judicial. Os próprios auditores — que fazem parte de uma indústria de US$ 10 bilhões, e que continua crescendo — raramente são responsabilizados por minimizar ou deixar de ver indícios importantes de irregularidades nas operações de seus clientes e em relatórios de sustentabilidade. O setor de auditoria ambiental é parte de uma indústria ainda maior de inspeção e certificação que movimenta cerca de US$ 200 bilhões por ano. Estão aí gigantes de auditoria como a KPMG e a PwC. Quem vigia ou vigilantes?   https://apublica.org/2023/03/mais-de-340-empresas-com-certificado-de-sustentabilidade-sao-acusadas-de-crimes-ambientais/#.ZADGJsMQNwI.twitter

 

- Aqui uma demonstração de que não exagero. Uma entrevista do Pepsico no Brasil para o Uol Economia. A Pepsico é a dona das marcas Pepsi, Toddy, Ruffles, Doritos, e outras. Ele diz que está reduzindo o sal e o açúcar nos seus produtos, o que seria umanotpicia boa... mas não podemos esquecer que ele representa uma indústria de alimentos ultraprocessados, que causa comprovadamente uma série de problemas à saúde das pessoas. E, como entrevista a um caderno de economia, ele fala das metas da emrpesa e de sua análise de mercado. Ele diz que a média de consumo de salgadinhos no Brasil é de 1,8 Kg por pessoa por ano, o que ele acha muito pouco. No nordeste, a média é de 1 Kg por pessoa por ano. A meta dele é chegar nos números do México, de 4,5 Kg per capita por ano. Ou seja, a grande função dele, a grande meta da vida profissional dele é multiplicar a quantidade de salgadinhos que nós comemos!!!! Eu não conheço a fundo, mas tenho certeza que a Pepsico tem todas as certificações, inclusive de ESG, mas, vamos pensar como sociedade: precisamos de uma empresa como a Pepsico? https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/02/27/entrevista-pepsico.htm

 

- Outra notícia absurda: a Funko, empresa que produz bonecos, superestimou a demanda e produziu muito mais bonecos do que conseguiu vender. A solução normal seria baixar os preços para “desovar” o estoque. No limite, doar os produtos. Mas ela não fez nada disso. Para não desvalorizar a série Funko Pop e outros produtos, a empresa decidiu aterrar bonecos no valor de US$ 30 milhões!!!! A medida “vale a pena” financeiramente para eles porque a alta oferta desvaloriza o produto para colecionadores, pois os Funkos não são mais tão “exclusivos”. Pode uma coisa dessas? Imaginem o impacto ambiental de aterrar tudo isso? E mais, o impacto ambiental de produzir isso tudo. E a decisão é meramente de fluxo de caixa por conta da “exclusividade” dos modelos para os “colecionadores”. Mais uma vez pensando como sociedade: precisamos produzir bonecos exclusivos?

https://capitalist.com.br/empresa-decide-descartar-mais-de-us-30-milhoes-em-funko-pop-entenda-a-razao/

https://twitter.com/choquei/status/1632348334143709184?t=oQsQGvKgZiM5PFnoQhAKOg&s=08

 

- Mais uma na mesma linha. Pedro Burgos mostra uma reportagem da Reuters dizendo que a Dow (gigante do setor petroquímico, uma das maiores produtoras de plástico e outros materiais sintéticos) e o governo de Singapura fizeram uma enorme campanha para reciclar tênis usados, em uma ação ambiental, de conscientização e de reuso/reciclagem que, em tese, ajuda o meio ambiente. Um piloto coletou 21 mil pares de tênis, um segundo coletou 75 mil pares. Para investigar se o negócio era real ou só "greenwashing", um repórter colocou um AirTag escondido no tênis que doou. O rastreamento achou os pares sendo vendidos num brechó da Indonésia. Como já falamos muitas vezes aqui:  a indústria lança produtos “recicláveis”. Mas quanto é realmente reciclado?

https://twitter.com/Burgos/status/1632356694792585218?t=TzibxWMAFywv08sUziou-Q&s=08

https://www.reuters.com/investigates/special-report/global-plastic-dow-shoes/

 

- Indicação muito boa do Lucas Venciguerra, uma animação que mostra uma sondagem e a instalação de microestacas para sustentar torres de alta tensão. A cravação das hastes é bem parecida com a sondagem rotativa para a retirada de testemunhos de rocha, como vocês vão ver na animação. Bem interessante realmente. https://www.linkedin.com/posts/felipe-ochoa-cornejo_civilengineering-innovation-mining-activity-7038486334956560384-GY0-?

 

- Vídeo muito interessante da BBC, que fala um pouco do Antropoceno, mas estabelece 9 “limites planetários” da Terra que, se forem ultrapassados, levará o planeta a um colapso. Essa é uma pesquisa do Centro de Resiliência de Estocolmo. O vídeo é realmente bem interessante, recomendo que assistam. O chamado 9º limite tem tudo a ver conosco, e chamado “incorporação de novas entidades”, a introdução indiscriminada no ambiente de substâncias criadas pelo homem, como materiais, substâncias químicas, organismos modificados, radiação, entre outros. https://www.youtube.com/watch?v=Asno1dh719s&t=51s

 

- Uma notícia muito boa!!!!! Pesquisadores da USP desenvolveram um sensor eletroquímico de papel kraft capaz de detectar em tempo real a presença de pesticida em alimentos. Ao entrar em contato com maçãs ou repolhos, por exemplo, o sensor, ligado a um dispositivo eletrônico, identifica a presença e mensura a quantidade do fungicida carbendazim, amplamente utilizado no Brasil, apesar de proibido‼️ A análise atualmente é cara e demorada, e o sensor pode ser usado pelo consumidor final, ou pelo restaurante, para avaliar o teor de carbendazin nos alimentos. Um belo trabalho. https://agencia.fapesp.br/sensor-de-papel-detecta-agrotoxico-em-alimentos-de-modo-rapido-e-barato/40815/

 

 

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Por hoje é isso. Aguardo os comentários, sugestões e críticas. Se tiverem dúvida, estou à disposição.

 

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Marcos Tanaka Riyis

 

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